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FACT-CHECKING: COMBATE ÀS INFORMAÇÕES FALSAS


FACT-CHECKING COMO MÉTODO DE COMBATE ÀS INFORMAÇÕES FALSAS: METODOLOGIA UTILIZADA PELA AGÊNCIA LUPA

1.1 Tema, problema e justificativa

Fact-checking é o termo utilizado para denominar a checagem de fatos feita pelo confrontamento de informações através da investigação de dados, fontes, pesquisas e registros. Pode ser visto como uma maneira de aplicar a apuração jornalística como ferramenta para qualificar o debate público e oferecer segurança sobre a veracidade de informações. 

A Lupa é uma das primeiras instituições especializadas em checagem de informações no Brasil. Através da máxima "compromisso com a reflexão”, a agência acompanha a circulação de notícias e veiculação de falas a respeito de política, economia, cultura, educação, saúde e relações internacionais. Enquanto estudante de jornalismo e com ciência dos crescentes casos de veiculação de notícias falsas e estímulos à desinformação, surgem questionamentos e, consequentemente, interesse em compreender como a Agência Lupa, através da checagem de fatos com metodologia própria, se propõe a incentivar o combate às informações falsas e a transparência do processo jornalístico.

Considerada como um procedimento recente nos meios de comunicação e projetos jornalísticos independentes, o fact-checking tem se configurado como um instrumento valioso no combate à desinformação. A prática surge como uma resposta ao fenômeno de crescimento da propagação de informações falsas, tornando todos, principalmente políticos e pessoas públicas, mais responsáveis por suas declarações. 

Instituições especializadas em checagem de fatos, como a Agência Lupa, têm o propósito esclarecer e, se necessário, corrigir informações imprecisas através da divulgação de dados corretos e complementares que foram adequadamente verificados. Neste caso, os resultados dessas apurações são divulgados nas mídias online da Lupa, disponibilizados e/ou vendidos para outros veículos de comunicação. 

Por se tratar de um fenômeno contemporâneo, percebe-se que ainda se faz necessário que haja mais reconhecimento e disseminação das práticas realizadas neste campo, de modo a incentivar o combate à desinformação e o exercício de um jornalismo transparente, assim como contribuir para o desenvolvimento do debate público sobre o tema. Desta forma, este trabalho propõe-se a colaborar com a discussão sobre a temática e reafirmar a importância de que novos estudos sejam realizados a respeito do assunto.


2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral
Este estudo pretende identificar a metodologia utilizada pela Agência Lupa para checagem de fatos, bem como as publicações realizadas em diferentes mídias. A intenção é compreender de que forma essa prática contribui para o combate à desinformação e por que este se faz necessário principalmente nos dias de hoje.

2.2 Objetivos específicos
- Identificar o contexto em que houve a necessidade de formação de profissionais e instituições especializadas em combate à desinformação.

- Reconhecer os critérios que guiam as escolhas das informações que serão averiguadas pela Lupa.

- Compreender como é feito o processo de apuração e análise das informações coletadas pela agência.

- Verificar como e quais publicações são feitas nas diferentes mídias sociais em que a Lupa está presente.


3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Relação entre indivíduo e mídia
Para compreender o papel dos indivíduos enquanto consumidores e reprodutores de informação, é importante ter em perspectiva os conceitos que cerceiam e dão sustentação para a subsistência desse processo. A teoria dos usos e gratificações vem de uma abordagem empírico-experimental, considerando a existência de motivações por parte do receptor que irão guiar suas escolhas durante o processo comunicacional (WOLF, 1995). Este, por sua vez, não é visto apenas como receptor passivo da informação, mas um indivíduo ativo em suas ações e capaz de selecionar o que e como vai consumir, ainda que de forma limitada. 

Diferentemente do proposto pela teoria hipodérmica que, como apontado por Wolf (1995), conceitua a relação entre mídia e indivíduo como orientada pela dominação, na qual a simples exposição à determinada informação é fator determinante para que o receptor da mensagem seja controlado e manipulado para agir de acordo com as orientações, um indivíduo atomizado, sem poder de escolha ou motivações internas. A mudança radical na visão sobre como o público reage à disseminação de informações levou à transição entre dois questionamentos feitos por Wolf (1995, p.68), de: a) “os estudos sobre a relação entre mídia e público deixam de perguntar ‘o que é que os mass media fazem às pessoas?’ para b) ‘o que é que as pessoas fazem com os mass media?” 
No último caso, o poder de repercussão de uma informação é baseado nas motivações individuais, que definem não só a escolha do que será consumido, mas também a interpretação que será realizada pelos receptores e quais atitudes irão tomar sobre a informação absorvida.

3.2 Pós-verdade
O surgimento da concepção de pós-verdade pode ser considerado como uma das possíveis respostas à pergunta “o que é que as pessoas fazem com os mass media?”. É importante evidenciar que, de acordo com a Academia Brasileira de Letras (ABL), o conceito de pós-verdade pode ser definido como

 “informação ou asserção que distorce deliberadamente a verdade, ou algo real, caracterizada pelo forte apelo à emoção, e que, tomando como base crenças difundidas, em detrimento de fatos apurados, tende a ser aceita como verdadeira, influenciando a opinião pública e comportamentos sociais.” 

Araújo (2019, p.2) aponta que o termo traz à tona particularidades de um dos desafios centrais da ciência da informação na contemporaneidade e pode, ainda, ser relacionado à consideração apresentada por Spinelli e Santos (2018, p.4), em que a existência e a forte circulação de informações falsas e distorcidas, rumores e fofocas constroem um cenário que facilita a criação de redes consideravelmente numerosas, em que os integrantes dão mais credibilidade uns aos outros do que para os órgãos de imprensa. As autoras evidenciam Art of Lie, matéria que foi capa da revista The Economist em Outubro de 2016, como uma das principais produções que trouxeram visibilidade e repercussão para o conceito de pós-verdade, apontando a internet e as redes sociais como principais responsáveis pela disseminação desse padrão de comportamento. 

A perspectiva dialoga com a afirmação de Castilho (2016), que apresenta a pós-verdade como um processo gerado pelo grande e inédito volume de conteúdo produzido pelas novas tecnologias de informação e comunicação (TICs). Nesse contexto, as informações falsas ganham cada vez mais espaço e geram preocupações à ciência da comunicação, além de prejudicar, ainda mais, a reputação das instituições e profissionais jornalistas.  O autor comenta ainda sobre como o fenômeno da pós-verdade impõe aos jornalistas a urgência de reconsiderar a credibilidade e reavaliar os parâmetros que norteiam a apuração e avaliação de dados e fatos.

3.3 Fact-checking
Apesar de seus primeiros indícios de surgimento terem sido identificados há cerca de apenas 30 anos, “o fact-checking já é considerado um fenômeno dos meios de comunicação ou projetos jornalísticos independentes.” (Dourado e Alencar, 2019, p. 108). Logo, essa prática tem se configurado como um instrumento valioso no combate à desinformação circulada, principalmente, na internet, através de uma checagem de dados que busca questionar declarações e informações veiculadas publicamente.
Neste mesmo espaço, o fact-checking encontrou oportunidades para crescer, levando em consideração que as plataformas digitais dispõem de mecanismos que possibilitam que os veículos jornalísticos possam ser mais transparentes, com o uso de hiperlinks e outros recursos multimidiáticos. O argumento é reforçado pela concepção de Fonseca (2018, p.71), quando aponta que “[...] as plataformas digitais oferecem mecanismos que respondem melhor a esse apelo por transparência”.

A International Fact-Checking Network (IFCN), do Poynter Institute, nos Estados Unidos, o qual a Agência Lupa é membro, tem como objetivo proporcionar uma rede de troca de boas práticas e direcionamento de diretrizes na área de checagem de fatos. Os integrantes que fazem parte da aliança são verificados e se propõem a seguir o código de conduta e princípios exigidos pela IFCN. São eles: compromisso com apartidarismo e equidade, compromisso com a transparência das fontes, compromisso com a transparência do financiamento e da organização, compromisso com a transparência da metodologia, compromisso com uma política de correções aberta e honesta. 


4. METODOLOGIA
Inicialmente, a fim de alcançar os objetivos pré-definidos, foi realizado um levantamento bibliográfico para compreensão do contexto social no qual está inserido o fenômeno da desinformação e sua disseminação, com aprofundamento na metodologia utilizada pela Lupa, a primeira agência brasileira de fact-checking, fundada em 2015. 
O levantamento dos dados para análise será feito, especificamente, a partir do período correspondente ao início das propagandas eleitorais, em 16 de agosto de 2022, até o dia da posse do novo presidente eleito, em 01 de janeiro de 2023, com o propósito de entender como as informações são verificadas pela Lupa e, principalmente, como isso foi feito no período eleitoral, no qual a grande maioria das checagens foram referente aos assuntos políticos. 

A partir disso, será possível identificar com mais exatidão quais as estratégias utilizadas pela agência para contribuir com o combate à desinformação. 
Nesse sentido, essa pesquisa se adequa como qualitativa e se configura como um estudo de caso intrínseco, no qual “o pesquisador pretende conhecê-lo em profundidade, sem qualquer preocupação com o desenvolvimento de qualquer teoria.” (GIL, 2018, p. 107). De acordo com Yin (2015) um estudo de caso é caracterizado por ser uma investigação empírica que apura um fenômeno contemporâneo, como é o caso do fact-checking. 

“[...] uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. [...] Em outras palavras, o estudo de caso como estratégia de pesquisa compreende um método que abrange tudo – tratando da lógica de planejamento, das técnicas de coleta de dados e das abordagens específicas à análise dos mesmos” (YIN, 2015, p. 32 e 33).

O autor complementa ainda com a afirmação de que este método envolve especificamente as pesquisas que investigam o “como” e o “por que” desses fenômenos.
Na construção deste trabalho, a divisão do texto será realizada em quatro capítulos. O primeiro buscará identificar o contexto em que houve a necessidade de construção de profissionais e instituições especializadas em combate à desinformação, assim como uma síntese do conceito de fact-checking e como este funciona na prática. Na checagem, essas instituições buscam identificar de forma clara e objetiva o grau de veracidade das informações e, neste caso, o serviço oferecido pela Lupa dá preferência para notícias e falas propagadas por figuras que se destacam nacionalmente, seja tratando de assuntos de interesse público ou que tenham tido grande repercussão na mídia atualmente.  

Partindo da leitura e análise de materiais disponibilizados pela Lupa sobre a metodologia utilizada, inicia-se a elaboração do segundo capítulo, para o qual serão coletadas informações que constam no site da própria agência, em seções como “Quem somos”, “Nossa metodologia”, “Política de correção”, “Acontecendo na Lupa”, “Nossas newsletters” e dentro da seção específica de "Dúvidas Frequentes”, que traz as subseções “O que é a Agência Lupa?”, “De onde vem o fact-checking?”, “Onde a Lupa se inspira?”, “Como a Lupa se financia?” “Quais os mitos e riscos em torno do fact-checking?” “Na Lupa, há espaço para contestações e correções?” .

Desta forma, seguindo a proposta de possibilitar a compreensão de como a agência se dispõe a contribuir para o combate à desinformação, no terceiro capítulo será feito o levantamento e análise dos conteúdos publicados nas mídias sociais, assim como identificação e esclarecimento dos procedimentos e termos utilizados para classificação das checagens através da descrição dos indicadores de credibilidade, compreensão da rotina produtiva, projetos e ações de combate a desinformação e explicação do significado das nove etiquetas utilizadas pela agência para categorizar as informações analisadas.

Esses conteúdos a serem explorados abrangem uma multiplicidade de áreas, sendo elas em grande proporção sobre política, economia, cidades, cultura, educação, saúde, meio ambiente e relações internacionais. Os materiais são divulgados em diversos formatos de acordo com a plataforma utilizada para divulgação, podendo ser em texto, áudio, vídeo, fotos ou a junção destes. A coleta dos dados será majoritariamente realizada no perfil da Lupa no Instagram, rede social na qual se concentram o maior número de seguidores da agência, que contava com 465 mil seguidores até o dia 18 de janeiro de 2023.

No quarto e último capítulo, será realizada a análise e interpretação dos materiais selecionados a partir da coleta de todos os dados citados anteriormente. O objetivo final é desenvolver reflexões e assimilações entre os resultados dessas análises e as concepções teóricas e conceitos escolhidos para fundamentar o estudo, assim como o entendimento do funcionamento da prática de fact-checking no contexto das plataformas digitais, quais as estratégias adotadas e como estas dão suporte ao combate à desinformação, além de contribuir para credibilização dos resultados alcançados por essa pesquisa.
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